A grama tornou-se preta; mal se toca nela, vira cinza", explica Yasin Mohamed, da etnia issa, nosso guia nessa viagem através da desolação. Estamos na parte oriental da Etiópia, na província de Dire Dawa: sete milhões de pessoas, na maioria nômades, três milhões em risco de morte por fome.
Mas a situação não é diferente no resto do país, com 1.130.000 km2 e mais de 60 milhões de habitantes. Conforme as previsões da ONU, na primeira metade de 2003, o número de pessoas vítimas da seca e necessitadas de ajuda alimentar será de 10 a 14 milhões.
"Vê aqueles tucul (casebres)? - continua Yasin Mohamed - Foram construídos porque ali ainda tem algo para alimentar o gado; depois, quando tudo for destruído pelos gafanhotos, os pastores partirão e irão vender o gado para comprar açúcar ou sal, ou mantimento para suas famílias.
Nossas famílias são grandes, não menos de dez membros, e nossos rebanhos são nossa única riqueza". As pessoas que encontramos se parecem com padeiros enfarinhados pela poeira branca e fina levantada pelo vento, que se deposita sobre tudo e todos. Assim é o xale da velhinha com dois burrinhos com a qual cruzamos: "Vou à cidade para vender um deles para comprar algo para meus filhos - diz. - A única opção que nos resta é ir embora daqui. Em toda parte só vejo terra queimada".
No leito do rio El bahe perambulam vacas magras e fracas, trazendo nos focinhos a expressão clara de uma morte próxima. Os homens cavam poças profundas, que costumam medir pela altura de um homem. "Esta é profunda cinco homens - explica um nômade issa - trazemos a água e há dez dias continuamos cavando para ir mais fundo. Nossa aldeia está distante um dia e uma noite de caminho. Se chegar a chuva sazonal, teremos futuro; se não, para nós acabou".
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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